Antes de responder a essa concepção ética, devemos deixar claro o que se quer dizer com instinto humano. O Dicionário Houaiss define instinto como “padrão inato, não aprendido, de comportamento, comum aos membros de uma espécie animal”. Para a psicanálise, o instinto ou pulsão de autoconservação é um conjunto de necessidades (p. ex., fome, sede, atividade muscular etc.) ligadas à fisiologia necessárias à conservação da vida”. Esse entendimento dos instintos humanos é o mesmo que lei moral? Não! Lewis de fato insinua que às vezes sentimos desejo de ajudar outra pessoa, e esse desejo pode, sem dúvida, ser devido ao ímpeto ou instinto de preservar a raça humana – instinto de grupo. Mas também observou a seguinte distinção crítica entre ter e o desejo de ajudar alguém e sentir que devemos ajudar, ajudando ou não.
Lewis prossegue explicando a dificuldade que experimentamos quando dois instintos estão em conflito. Quando isso acontece, e não há nada em nossa mente, exceto os dois impulsos conflitantes, o mais forte dos dois deve certamente prevalecer. É precisamente nesse momento de luta entre os dois ímpetos que ficamos mais conscientes da lei moral, porque ela normalmente parece nos dizer para escolher o mais fraco dos dois instintos. Com respeito à ilustração de Lewis, provavelmente vamos querer ficar a salvo (autropreservação) muito mais do que ajudar a pessoa em perigo (instinto em grupo). Todavia, a lei moral nos diz para ajudá-lo. Além disso, Lewis observou que a lei moral freqüentemente nos diz para procurar deixar o impulso certo mais forte do que ele é naturalmente.
Lewis argumentou que a lei moral não é meramente mais um de nossos instintos. Se fosse, deveríamos ser capazes de chamar um desses instintos de “bom”. Mas esse não é o caso. Não há instintos que a lei moral não possa nos dizer algumas vezes para suprimir nem que não possa às vezes dizer-nos para incentivar. Lewis também ressaltou o perigo de estabelecer um dos impulsos da natureza humana como aquilo que “deve” ser seguido a todo custo. Demosntramos que a história confirmou isso, por exemplo, no instinto de “sobrevivência dos mais adaptados”, que Hitler incorporou no dogma nazista e causou muita agressão. O queveio na seqüência lógica foi o genocídio. Concluímos, portanto, que a moralidade é mais do que um simples instinto humano. E porque a moral e a ética não podem ser um produto da psique humana?
[1] Cristianismo puro e simples, p.5 (grifo do autor).
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